sábado, 19 de setembro de 2009

Sombra

Sou apenas uma sombra, um mero reflexo do homem que já fui. Já nem consigo chorar, estou seco. As poucas coisas que ainda me conseguem, agarrar, manter ligado ao mundo real, são efémeras, passageiras, como suspiros, como piscar de olhos. Esta horrível dor de dentes, obriga-me a estar concentrado, assim a escuridão não consegue tomar conta do que resta do meu corpo, maldita dor de dentes.

Sinto o pânico crescer dentro de mim, como uma erva daninha, a espalhar-se por todo o meu ser, imparável. Quero fugir, pelas pessoas que gostam de mim, devo-lhes isso, resistir, mas... Algo em mim, algo novo e velho, maligno e benigno, cancro ou anti-corpo, anjo ou demónio, diz-me ao ouvido: "Deixa-te ir, mergulha neste escuro que te espera, e descansa, na tua loucura." Que proposta tão tentadora, largar tudo, deixar de sentir, seja o que for.

Posso fazer analogias mais poéticas, como: "Sou como um navio sem ancora, perdido numa tempestade." Mas eu não sou um barco, e, quando me vejo ao espelho, o que vejo é um zombie, tal iqual; olhos vazios, afundados em olheiras escuras, pele pálida de tons creme esverdeado, magro, tão magro que consigo delinear o meu próprio crânio, vejo todos os meus ossos.

Eu não consigo vencer isto, sozinho, e nem estou a ser orgulhoso ao ponto de não pedir ajuda, simplesmente, eu acho que não mereço, e mesmo que alguém me quisesse ajudar, duvido que saiba como o fazer; eles não se conseguem ajudar a eles próprios, como é que me iam ajudar a mim? E, a única pessoa que me podia salvar, não pode, não deve, não quer.

Patético, eu sempre pensei ser um lutador, um lobo entre as ovelhas, e estou reduzido a isto, e nem sei o que isto é!

Para terminar, ela era a minha ancora, eu já sabia que se a perdesse, que me perderia também. Era tudo o que sempre quiz ter, agora, é o impossível, o sonho acordado tornado pesadelo, por minha culpa.

Ainda bem para ti.

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