sexta-feira, 9 de abril de 2010


Posso escrever os versos mais tristes esta noite.

Escrever, por exemplo: "A noite está estrelada,

e tiritam, azuis, os astros lá ao longe".

O vento da noite gira no céu e canta.


Posso escrever os versos mais tristes esta noite.

Eu amei-o e por vezes ele também me amou.

Em noites como esta tive-o em meus braços.

Beijei-o tantas vezes sob o céu infinito.


Ele amou-me, por vezes eu também o amava.

Como não ter amado os seus grandes olhos fixos.

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.

Pensar que não o tenho. Sentir que já o perdi.


Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ele.

E o verso cai na alma como no pasto o orvalho.

Importa lá que o meu amor não pudesse guardá-lo.

A noite está estrelada e ele não está comigo.


Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe.

A minha alma não se contenta com havê-lo perdido.

Como para chegá-lo a mim o meu olhar procura-o.

O meu coração procura-o, ele não está comigo.


A mesma noite que faz branquejar as mesmas árvores.

Nós dois, os de então, já não somos os mesmos.

Já não o amo, é verdade, mas tanto que o amei.

Esta voz buscava o vento para tocar-lhe o ouvido.


De outra. Será de outra. Como antes dos meus beijos.

A voz, o corpo claro. Os seus olhos infinitos.

Já não o amo, é verdade, mas talvez o ame ainda.

É tão curto o amor, tão longo o esquecimento.


Porque em noites como esta tive-o em meus braços,

a minha alma não se contenta por havê-lo perdido.

Embora seja a última dor que ele me causa,

e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo.


AUTOR: PABLO NERUDA


(lindo demais .. este e outros poemas deste Autor .. vale a pena lê-los :)

2 comentários:

Unknown disse...

ai esse meu grnde amigo...smp foi assim com tudo, lmbro me das coisas q ele me contava loooooool

Patrícia disse...

Muito bem... é o meu poema preferido :)

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