sexta-feira, 16 de abril de 2010

Ele, estrela da manha, ...

1º Capítulo - Parte 1 de ...


...acorda, abre os olhos.

Está escuro, o cheiro é pérfido e nauseabundondo como se estivesse no inferno, de repente, um clarão cega-o...

No horizonte, a sua direita levanta-se uma luz que não estava habituado a ver. São seis da manhã, e o pesadelo continua latente na sua cabeça, tão vivo quando dormia.
Ergue-se a meio corpo e olha em seu redor, nada mais vê se não lixo e destruição à sua volta, e o fedor do que o rodeia evade-lhe as narinas como uma violação, fudendo cada sentido, cada sensação, o gosto amargo de ressaca, pele seca, e dor nos ossos, tudo num só movimento.
Desnortiado, confuso, doente, tenta erguer-se... Cambaleia... A força nos braços sede... cai de frente na imundice... de mãos esticadas como uma criança, como um bebé aprende outra vez a levantar-se...

O sol ergue-se, imponente, sem culpa nem remorso, nem se quer um pingo de compaixão, e sem perguntar evade-lhe os olhos desabitudos a olhar e ver. Ele, está de pé, outra vez, mas desta vez Ele decidiu que tudo seria diferente, alias, Ele, não sabia que tinha decidido voltar a se erguer. E mesmo assim depois de estar de fronte voltada ao calor deste sol que nascia tão longe como a sua imaginação, Ele derramou a sua primeira lágrima, quente como o fogo, queimou-o por toda a face à medida que lhe descia cara a baixo, desde o olho de onde nasceu até o encontro salgado contra os lábios d'Ele.

Instintivamente a sua língua voltou a provar esta lágrima de mágua...

Os seus olhos levam o seu tempo a se acostumar aquela nova luz, é demasiado brilhante, cega-o.
Emparando os olhos com uma mão, Ele dá seu primeiro passo, todas as suas forças numa só perna, levanta-a, lentamente do meio do lixo que o rodeia, onde está enterrado até aos joelhos, e volta a mergulhar centímetros a frente, no lixo que o precede. Puxa pela outra perna, presa como num passado duro de partir, impossível de mover levanta-a, para dar mais uma nova passada, e a mergulhar outra vez tão fundo quanto as suas pernas chegam, até aos joelhos...
As forças falta-lhe, nada, nem a morte o demoveria agora de tentar isto, voltar a por um pé à frente do outro e caminhar, mesmo que o esforço fosse tão desumano, tão cruel, que a cada segundo cada eternidade, o seu ser se sentisse dilacerado por a mais cruel das fomes e sedes... Ele, por tudo caminha, desenterrando uma perna da imundice que o envolve, para a enterrar novamente poucos centímetros mais à frente...



- Lúcifer -

(fim da 1ª parte)



...

1 comentários:

Patrícia disse...

Terá ele forças para continuar a caminhar?

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